12/11/2009

Eu fui uma prostituta lírica


Neste post podem encontrar a publicação integral do conto "Eu fui uma prostituta lírica"

- alegoria escrita do deboche pelo qual me perdi, perdendo a Inês.

Podem fazer download ou copy paste e também enviar pistas.



"Meus amigos, eu fui uma prostituta lírica. Sim, confesso-vos com as sílabas todas e o coração nas mãos: eu fui uma prostituta lírica. Escrevera o poema para uma dama, inventara o truque da carta para a sua mana e reciclando versos, servindo-me de uma velha manha, tentei seduzir uma terceira… uma terceira “bacana”!

Eu não estava apaixonado, simplesmente despeitado. Eu ia mostrar a duas manas, duas manas de pequenas mamas e grandes psicodramas, com quantas canas se fazia… Uma artimanha. Estava farto de ser um banana… Um banana nas mãos das duas manas mais interessadas em sacar poemas do que em sacudir o poeta… Não sei se estão já a fisgar as piranhas que eram as duas manas tão doidivanas com suas grandes patranhas e pequenas mamas..?

É certo que, por vezes, íamos os três para a cama, com grande sanha “foder à canzana”… Mas só de vez em quando, pois ao longo de muitas semanas simplesmente vivíamos enredados em psicológicas tramas: eu e as duas maganas. Por isso, porque estava farto, meus amigos, resolvi saltar do barco.

Quando pela vez primeira vi a Julieta percebi que ela era a vítima ideal para dar uma lição nas duas manas… Até porque esta Julieta tinha grandes mamas! Fui ter com ela e fingi que a convidava para representar um papel num filme que fazia de conta fazer: as aventuras do Capitão Ad Hoc. O filme nunca foi rodado, mas eu tampouco me ralei… Graças à cantada cinéfila pude conhecer muitas jovens e belas raparigas… Essenciais à produção da minha obra lírica. Esta foi apenas mais uma a quem eu tive o descaramento de dizer que tinha um visual muito… cinematográfico!

“Sobretudo com as tuas meias cor de laranja” – disse-lhe eu, lançando o isco.

“Meias cor de laranja? Mas como é que tu sabes que tenho meias cor de laranja?” – Inquiriu ela.

Realmente como é que eu me lembrava… Ocorreu-me que numa manhã de Inverno, havia muito tempo atrás, a menina trouxera uns collants cor de laranja. Ela podia até não ter muito jeito para a representação mas aqueles collants… aqueles collants vistosos, exuberantes, cor de laranja… aqueles collants encheram o meu ecrã! E respondi-lhe, portanto, assim:


Senhorita bem coquete

No primor com que se arranja,

Saia preta e o topete…

Duma meia tão laranja.

Usa blusa assim garrida,

Colorida como a vida

E cingido à cintura,

Casaquinho traz que abafa,

Salto raso e a postura

De quem gira numa estafa.

Uma mala a tiracolo

Com baton e caderninho

E a certeza dum consolo

No final do seu caminho.

É verdade que escrevera este poema para a primeira das manas, das manas de pequenas mamas… mas também não tinha culpa que a minha poesia tivesse um carácter universalista e os meus versos pudessem encaixar que nem uma luva em muitas raparigas… E como boa prostitua lírica que era, aparentei ter escrito este poema para a Julieta das meias cor de laranja.

Mas, sabem que mais? Não ter escrúpulos compensa! A senhorita ficou deslumbrada, descobrindo-se descrita em verso. O poema foi uma lança em África e continuei a ofensiva lírica ao longo de duas suculentas horas… Acreditem, meus amigos, como eu toquei os violinos!

Quando me disse que se chamava Julieta Espírito Santo perguntei logo se era filha do banqueiro, pois versos não pagam as contas no fim do mês.

“Não, mas tenho conta no banco” – Respondeu.

“Que pena” – pensei. Mas não deixava de ser uma grande coincidência! E um plano começou a esboçar-se na minha cabeça. Sim, um plano! Porque na política como no amor, a estratégia é mesmo fundamental.

Despedi-me no fim, garantindo que lhe entregaria o poema escrito… O poema da meia laranja. “Nem que tenha de passar por mil provas, gentil senhora” – Arrematando o lance num excesso de teatralização! E assim me fui, pensando como o mundo era mesmo pequeno. A Julieta era depositante do Banco Espírito Santo… onde trabalhava a Dona Lurdes.

A Dona Lurdes era bancária, amiga da minha mãe e fã da minha obra lírica. O mesmo é dizer: a pessoa certa no lugar certo. Porque ao fim e ao cabo - pensem bem - quantas “Julietas” Espírito Santo com 23 anos e vivendo no Feijó poderiam ter conta aberta no Banco Espírito Santo? O que fiz a seguir era totalmente imoral e também podia dar pena de prisão… Mas, com a maior cara de pau deste mundo, fui ter com a Dona Lurdes e pedi-lhe que me desse o endereço da Julieta através da pesquisa dos ficheiros informáticos do Banco.

Como boa fã da minha obra lírica, a Dona Lurdes prontificou-se logo a fazer o jeito, recomendando-me de permeio que me alimentasse melhor: “andas muito magrinho, querido, elas deixam-te seco!” – sentenciou. Mas já posse dessa informação supostamente confidencial, poderia escrever à Julieta uma carta de amor…

Eu tinha inventado o truque da carta para a segunda das manas, das manas de pequenas mamas e para além de muito bom, o truque da carta era muito simples de concretizar. Não sei se já fizeram colecção de selos... Eu já. Fiz quando era adolescente e como agora, feito marmanjo, me tinha tornado uma prostituta lírica… Para além de reutilizar os meus versos, também reciclava os meus selos.

Os selos nas cartas são colados no canto superior direito do envelope, de modo que, se eu colasse no canto desse canto (mesmo no cantinho direito) um dos selos da minha colecção que estivesse apenas carimbado no seu canto superior direito… Pareceria que o envelope levara o carimbo de esguelha, mas que mesmo assim fora carimbado. Era como se o empregado dos correios estivesse bêbado em serviço. Coisa aliás nunca vista, diga-se: um carteiro bêbado…

Mas não podia ser um selo qualquer carimbado no seu canto superior direito. Não! De preferência tinha de ser giro e de um destino necessariamente exótico.

Sei lá… Singapura, por exemplo. Colava o selo no envelope, num daqueles by mail, com os tracinhos azuis e vermelhos e escrevia no destinatário o nome da Julieta e respectivo endereço.

Julieta Espírito Santo

Rua do Assim- assado, nº 3

2650-701 / Feijó

Já quanto ao remetente bastava inventar. Era giro pensar que Rui Faustino escrito ao contrário se lesse Onit Suafi Ur. Era giro, não era? Ainda por cima, “Ur” na antiga língua dos caldeus, significava “O Princípio”… Era giro, místico e às tantas… Às tantas até vive em Singapura um fulano chamado

Onit Suafi Ur.

na Liberty Street, nº 7

Por fim, ao invés de escrever no código postal 1100/ Singapura, como esta foi uma colónia britânica, acrescentava, para dar maior realismo:

Queen Victoria District.

Singapore.

Estava feito! Uma carta de Singapura primorosamente forjada. Agora só tinha de a meter na caixa de correio da Julieta, sendo mesmo preciso ir até ao Feijó pôr o raio da carta, porque os CTT não entregam este tipo de correspondência!

De abalada parti eu à procura do Feijó que ficava longe como “o caraças”, onde nunca estivera e não fazia bem ideia donde ficasse. Perdi-me, claro. Se isto era assim para entregar a carta… pensei para os meus botões enquanto dava corda aos sapatos.

Porém, dentro da carta estava o poema. O poema que ela escutara numa das mesas da esplanada amarela e que eu jurara entregar-lhe desse por onde desse… E muitas voltas depois, lá dei, lá fui ter ao Feijó e à rua certa. Deixei a carta e raspei-me.

Depois… era só esperar! Esperar, esperar o dia seguinte quando ao abrir a caixa de correio a Julieta, ao invés de encontrar a conta da luz para pagar, desse de caras com a carta: A carta de Singapura!

Ponham-se os meus amigos nos pés da donzela, não tida nem achada no final da rua, quanto mais em Singapura. “Singapura? Mas é mesmo para mim… o nome, o endereços certos. Mas como, como se eu não conheço ninguém na Serafina, quanto mais em Singapura!?”

Mais palavra menos suspiro, o choque seria sempre grande (a experiência mo dizia…) e depois de abrir a carta… a descoberta do poema que escutara na véspera: enfim, um mimo!

Restava-me esperar, contudo, pela reacção dela. Não tendo nada para fazer, saquei da caneta e comecei a escrever. Assim, como assim, já adiantava trabalho de casa. Um escritor escreve – eu, pelo menos – com base nas suas vivências, observações, impressões e sensações proporcionadas pela vida. Da vida do escritor ou dos outros, não interessa! Que eu nestas coisas da escrita fartava-me de vampirizar a vida alheia. Como não tinha qualquer tipo de vivência ou convivência com a Julieta, sendo porém uma prostituta lírica, socorri-me de recordações que tinha das manas, das manas de pequenas mamas, quando íamos os três com grandes “bezanas” dançar umas valsas.

Saiu assim o poema:

Quando a música se calou

Estávamos os dois a um palmo,

Olhos nos olhos e o tempo parou…

Quando os corpos se aquietaram

Até nós deixámos de dançar,

Mas os olhos… os olhos teimaram em falar

Por cima das palavras de circunstância

Trocadas entre nós, dois estranhos,

Comigo preso nos teus castanhos

Indomado no ardor e ânsia,

Gesticulando, disparatando e rindo

Sem querer acabar o que era findo…

Quando acenderam a luz

Terás tu visto claro? Viste casto?

Viste nos meus olhos amor vasto?

Pois por cima das palavras…

No fim da festa em que estavas,

Disseram-te os meus olhos o que deles se diz,

Ou escutaste-lhes o murmúrio, minha flor do lis?

Talvez um pouco formais os versos, mas ficou catita o poema. O Sol tinha-se posto, era escuro de novo e a prostitua lírica voltou a atacar. Eu sei, eu sabia que não devia ter feito o que fiz, mas pensei que talvez, um dia mais tarde, o material me pudesse vir a ser útil e decidi, portanto, transcrever as mensagens trocadas em SMS com a Julieta.

Ela abriu as hostilidades:

“Estou encantada. Quando vi a carta de Singapura… Mas como descobriste onde eu morava? E porquê? Porquê eu? Porque te deste a todo este trabalho?”

Eu não vos dizia que o truque da carta era muito bom..? Ela perguntava-me “porquê?”. Porquê o poema, a carta, o gesto arrebatado… Por fortuna tinha já a resposta na ponta da língua, ou melhor, na ponta da caneta pois uma das manas das pequenas mamas havia-me feito a mesmíssima pergunta. Porém, para ter alguma credibilidade, respondi 4 horas mais tarde da seguinte forma:

Não tenho explicações científicas.

Teorias complexas são trapalhadas,

São postiças verdades engalanadas

A sofismas e lógicas miríficas

Que doutos mestres em sociologia,

Inchados pavões no seu orgulho,

Apresentam como jóias o entulho

Que soterra uma tão fraca fantasia.

Ai o rigor científico e racionalista,

A matemática e o pensamento geométrico,

Como tudo é terrivelmente tétrico!

Pois tal saber quero eu perder de vista!

Perguntaste-me as razões porque te quero…

E sei dizer-te apenas que é um querer sincero.

Que lindo, não? A resposta que recebi é que não foi nada bonita. Telefonaram-me e escutei de viva voz o bagaço a gritar:

“Daqui fala o Romeu:

E se não paras com isto,

Quem te vai aos cornos sou eu!

Vês, palhaço? Também eu sei rimar.

Uma voz - Julieta lá atrás, seria? – Clamava: “pára com isso Tiago, como te atreves...?”

Mas atreveu-se! A mensagem era clara, cristalina como água e telefonei de imediato à minha advogada porque nos assuntos do coração é sempre útil ter uma opinião especializada. A minha conselheira sentimental foi muito explícita e expeditamente explicou-me: “Pelo amor de Deus Faustino, abre os olhos, ela vive no Feijó!”

Tinha razão. Não só me arriscava a levar um enxerto de porrada do Romeu como aqui entre nós: o Feijó era demais! Era do outro lado do Tejo, para lá da portagem e pouco antes do Fogueteiro… Ainda se ela vivesse ali na Estrela era possível passar lá por “acaso” e terminar a tarde tomando um cafezinho na esplanada do jardim com o lago ao lado e os patos grasnando. Mas no Feijó!? Pelo amor de Deus! No Feijó os únicos patos que lá vivem são os idiotas que compraram as vivendas germinadas do outro lado da estrada que os separa da zona industrial do Feijó! E a zona industrial do Feijó… Meus amigos: a zona industrial do Feijó não é coisa bonita de se ver.

Foi por isso, por ficar fora de mão e cara em gasolina… que eu decidi parar por ali.

Tinha perdido! Perdera a parada e voltava à estaca zero. Pus-me, então, a reflectir sobre as razões dos meus fracassos. As sucessivas banhadas que levava não podiam ser apenas obra do acaso. E acreditem: esta tinha sido apenas mais uma. Tinha realmente de abrir os olhos e encarar a verdade de frente sem mais subterfúgios, teorias da conspiração ou desculpas esfarrapadas! E admiti, perante o espelho, finalmente a verdade: Eu era vítima duma macumba! Sim, tanto azar ao amor só podia ter como única explicação científica uma maldição lançada pelas duas manas de pequenas mamas. Na altura escarnecera nas suas caras: “ah, ah, ah, ah!” Mas naquele momento veio-me à cabeça o Spider Man! Fui a correr vê-lo… E lá estava a um canto o meu homem aranha, o meu alter-ego, completamente cravejado de alfinetes com o poema na mão.

A Maldição!

O ritual foi cumprido,

O feitiço foi feito.

Não há volta nem jeito

De escapar ao estabelecido.

Mágicos símbolos pintados

No solo sulcado… Um pentagrama.

Óh esquecidos Deuses invocados:

Enrabichai-me vós esta Dama.

“Estiveres tu onde estejas,

Por diferentes que sejam os céus,

Por mais olhos que vejas…

Neles verás sempre os meus.”

E assim, entre a loucura e a paixão:

Foi lançada, foi lançada, foi lançada a Maldição!

Elas tinham mesmo usado esse expediente sujo – lançarem-me um feitiço! Ainda por cima serviram-se dos meus próprios versos, dos versos que eu escrevera na noite da coca e do ritual pagão que celebráramos para finalmente poder trincar as pequenas mamas das duas manas… Na altura pareceu-me uma boa ideia, mas agora… agora percebia que havia um preço a pagar. E que preço! Com que juros! Para minha desventura aqueles deuses tinham-se saído uns grandes agiotas.

Seria que a praga rogada pelas manas dos melodramas na altura do nosso divórcio não tinha volta a dar… Elas bem me tinham jurado: “não hás-de ter sorte nenhuma! Só vais dar com os burros na água e voltarás tenrinho, tenrinho, como uma banana para o regaço das tuas manas…”

Seria.. Oh Deus! Eu nem queria acreditar mas… O Spider Man! O Homem Aranha até metia impressão com tanta agulha no estofo… Senti-me tão desesperado e deprimido que só me apeteceu escutar um fado e pus na aparelhagem os Ena Pá 2000

Foi depois disso que, num momento raro de inspiração, me lembrei da Menina Azul. Tinha fracassado – uma vez mais – no meu objectivo de arranjar uma amante, mas as manas não precisavam de saber disso… E eu pressenti qual seria a minha salvação! Ia dar uma de “Álvaro Cunhal”: transformar derrotas em vitórias. E fiz logo um plano porque eu adorava esquemas.

Se não tinha amante, inventava uma. Era chic e bem engenhoso ter uma amante imaginária. Não gastava dinheiro – e as amantes custam bem caro. Não tinha dores de cabeça, pois esta só existia na minha e não me fazia chantagens emocionais. Não vivia, enfim, sobressaltos desnecessários porque com uma amante imaginária nós fazemos o que queremos da relação. Era perfeito, muito melhor do que uma boneca insuflável.

Mas tornava-se necessário dar consistência a esta história da amante imaginária e resolvi juntar o útil ao agradável, pedindo a irmã de um amigo meu emprestada. Telefonei ao Tó e expus-lhe a situação. Como é evidente, ele disse logo que sim, mas quem não diria?

O Tó tinha uma linda irmã de olhos azuis nos seus debutantes quinze anos. Encontrava-se na altura de desabrochar, ir às discotecas, sair à noite e pintar a manta pela cidade. Ora filha de boas famílias e com uma sólida educação cristã, a menina não podia sair ao Deus dará. Cruz, credo! Claro que não! A sua inocência era devidamente salvaguardada pelo Tó que, com o sacrifício da sua vida social, acompanhava a irmã.

Dava dó o Tó, mas quando me propus substitui-lo na ingrata tarefa de Baby-sister da mana caçula, a “joi de vivre” reconquistou o coraçãozito do Tó… é sempre bom fazer jeitos aos amigos e, desta forma, já podia o Tó como um bom, barbudo e barrigudo trintão, retomar à mesa de Póquer e aos whiskis com os seus compinchas que, como ele, esperavam ter na mesa de jogo a sorte que lhes escapava no tabuleiro do amor. Hum… Vendo bem as coisas, se calhar deveria ter-me juntado ao grupo, mas lírico como era, resolvi continuar a apostar as minhas fichas na roleta das cegas paixões.

Durante dois meses, portanto, dei umas voltinhas com a garota e foram tantas as voltas que escrevi alguns poemas para a irmã do Tó.

A menina azul

A menina azul desceu, desceu,

Dos céus desceu num raio de luz

Desse luar que a todos seduz.

Vinha da lua, lá donde nasceu,

Vestia kimono da cor do azul,

Vinham nos olhos os céus de Istambul.

Até os seus lábios eram diamantinos,

Lembravam os rios de tão cristalinos.

Nos cabelos trazia… o mar, maresia,

A menina azul, azul fantasia…

Num manto de espuma em paul alagado

A menina azul… Poisou delicado!

E calada a charneca com o coaxado…

Consagraram-se os sapos ao anjo azulado.

Tendo escrito os versos, resolvi ir mais longe e realizar uma instalação poética com os poemas azuis. O início da época balnear seria dali a 15 dias e eu ia abrir a estação em grande, pondo cartazes de 3 metros com os poemas d’ A Menina Azul nos acessos das praias do concelho de Cascais… Porquê Cascais? Porque era mais bonito que o Feijó, mais à mão de semear e as tias de Cascais sempre tinham algum dinheiro para financiar estas estroinices que eu impinjo como arte.

Assim fiz e, seguindo a rotina, afirmei à posteriori à imprensa que me apaixonara pela Menina Azul, surfista das praias da linha do Estoril, conseguindo dessa forma a minha primeiríssima primeira página no 24 Horas. Sim, meus amigos, cumpri um sonho de infância: era capa num tablóide!

Sobretudo, tinha vencido a macumba das manas. Não mais seria escravo dos seus caprichos e melodramas! O que começara por ser um estratagema para fazer arder em ciúme as duas manas de pequenas mamas, acabava por se revelar como caminho novo… Era capaz de escrever, mais do que isso, de usar a caneta com outras musas. De resto, se o Picasso tivera o seu período azul, também eu tinha direito ao meu!

Mas o que era bom não podia durar sempre. Talvez por ter 15 anos, decerto por ser mulher (ou a caminho disso…) A Menina Azul fez birra! Bateu o pé e fez-me cenas por ter dedicado aquela instalação poética a uma surfista qualquer ao invés de assumir o nosso amor proscrito!

E eu, sinceramente, já não tinha pachorra para adolescentes, as modas urbanas e os dramas da borbulha. Não! Ainda lhe tentei explicar que, tendo ela 15 anos e eu 30, podia ir para a cadeia a propósito dos poemas… e do uso da caneta! Mas não me esforcei muito e de resto ela até tinha razão: a história da “surfista azul” era comercialmente mais rentável e eu não passava de uma prostituta lírica.

Por isso, tornei ao celibato antes de dar entrada no xelindró. Tentara passar uma rasteira na maldição das manas, mas continuava estendido ao comprido…

Lembrei-me delas, os suspiros, para além das saudades fizeram a sua aparição… Meu Deus! Saudades das manas!!! Seria a “maldição” delas a funcionar? Estaria simplesmente carente? Ainda hoje não sei. O que sabia é que os melodramas das manas sempre tinham uma grande maturidade dramática… E isso, meus amigos, não se encontra em qualquer loja dos chineses.

A minha cabeça andou à roda: matutei, matutei nas duas manas até que acabei por concluir que estava mesmo preso às manas… O que também não era assim tão mau, desde que fosse eu a guardar a chave das algemas…

Sabendo através dos preciosos ofícios da minha advogada que as duas manas de pequenas mamas ardiam de despeito pelo meu Verão Azul, resolvi encontrar-me casualmente com elas. Como é evidente, para forçar a casualidade, fiz-lhes uma espera: “Oh que grande surpresa! Acabei agora mesmo de chegar.” Eu sorria de orelha a orelha, mas as duas manas mostravam-se muito pouco fraternais. A recepção gelada, todavia, não esfriou o meu entusiasmo, pois eu tinha uma arma secreta. Ao fim de alguma conversa de circunstância, tirei da manga a Branca de Neve do João César Monteiro e fiz o convite. À noite, a branca alinhada em riscos, faria o resto por mim.

E assim foi meus amigos! Afinal tenrinhas, tenrinhas, tinham voltado as duas maninhas de braços abertos e mamas ao léu. Ia tudo pelo melhor e não tinha mãos a medir pelo bem ocupadas que estavam quando, para minha solene irritação, tocaram à campainha. De início tentei ignorar, mas a campainha não se calava: “Triim, triim, triiiiiiiiim”. Era demais para os meus índices de concentração!

Resolvi atender a porta e fui em pêlo. Em pêlo, sim, tal como Deus me mandou ao mundo, pois nada ilustraria melhor ao Sr. Manuel a hora muito incómoda em que viera cobrar o condomínio do que apanhar com um nu frontal. Abri a porta e lá estava um bigode, mas este bigode veio acompanhado duma pêra e atrás da pêra vieram socos, biqueiros e muito açoite.

Eu nem sabia quem era aquele gorila, mas a sova não dava muito espaço para apresentações formais. De qualquer modo tratei de invocar a minha inocência: “Eu não fiz nada, pelo amor de Deus, eu não fiz nada! Apenas pedi ao Tó para sair com a irmã para causar ciúmes a estas manas. Pelo amor de Deus, acredite em mim, quando lhe digo que não toquei num fio de cabelo da sua filha!”

E para minha surpresa escutei “filha, mas qual filha, eu não tenho filha nenhuma, do que é que estás a falar oh paneleiro?” Alguns pontapés nas costelas e as devidas explicações depois, lá apurámos a verdade… “Que falta de sorte a minha – grunhiu o troglodita – entrei no prédio ao lado e estive a dar um sova no gajo errado. Então este é o nº 68 e não o 68 A. Mas que grande galo”. Pois, pois, “mas que grande galo”. Então que diria eu cheio de mazelas, nódoas negras e escoriações várias…

Mal o tipo saiu porta fora, reinou lá em casa o mais pesado silêncio, pois o pior estava para vir… As manas que tinham a tudo assistido, durante muito tempo ficaram quietas, mudas e inexpressivas. Eu tremia só de pensar… Até que uma declarou:

“Poeta, esta foi provavelmente a cena mais patética a que assistimos na vida. Mas sabes que mais..? Gostámos. Gostámos muito do filme”. E rindo muito marotas, partiram pedindo: “vê lá se amanhãs arranjas o Silvestre para continuarmos a sessão”.

Eu encolhi os ombros e resignei-me, pois assim, como assim, com as duas manas de pequenas mamas e grandes psicodramas sempre desenvolvia a minha obra lírica com alguma cama. E finalmente, apreendera o significado oculto do que me dissera em tempos uma das manas: “quiseste trocar de soutien… mas saiu-te a mesma medida!"


Rui Faustino

o Pedro que procura Inês


3 comentários:

JOÃO JOAQUIM MARTINS disse...

Olha seu Pedro, Inês tem muitas...o senhor precisa é verificar quem é que está destruindo sua vida.
Lamento pelos filhos que perderam inutilmente seus pais e as esposas apaixonadas mães, que perderam seus sonhos. O problema é que um grupo de pessoas no comando de nosso país, de forma carnavalesca, furtaram a dignidade da sociedade, o espírito humilde e religioso de nossa gente e agora estamos mergulhados em uma sociedade lamaçal. E na lama querido semelhante, tudo vale. Se na tua infelicidade, ainda há esperança para o mundo, então leia e divulgue o texto a seguir. Caso contrário seremos purificados no fogo. Certamente você está acompanhando a coligação árabe e gogue ( sobre gogue, leia o livro do Espírito Santo Verdadeiro, facilmente disponível na internet gratuitamente) Acontece, que esta manifestação humana está profetizada desde o tempo de Abrão o patriarca dos israelitas e árabes. Trata-se de uma disputa pela benção da primogenitura e domínio do planeta por parte da religião vitoriosa. Como temos visto nos últimos dias, o Sr Ahmadinejad, presidente do Irã, assumiu essa idéia. Motivo verdadeiro pelo qual veio ao Brasil. Resta apenas a Rússia se comprometer em liderar a coligação. Objetivo da coligação é fazer com Israel, o mesmo que foi feito com Iraque. E a profecia está amplamente divulgada por todos os profetas inclusive por Jesus em (Mateus 24). O Profeta Ezequiel no capítulo 38 e 39 da Bíblia é específico sobre o assunto. Se isso tem alguma relação com as previsões do final dos tempos a partir de 2012, pode ser. O fato é que países como: a Vezuela, Bolívia, Líbia, Síria, etc... Já deram seu apoio publicamente ao Sr Ahmadinejad. Se você ler as revelações no Livro Espírito Santo Verdadeiro, ficará realmente convencido de que estamos vivenciando uma pequena calmaria, antes de uma desgraça que vai definir a vida no planeta terra. Daí porque gostaríamos que esta mensagem viajasse mundo a fora. Porque ninguém jamais pensou, que os bons evangélicos estadunidenses pudessem detonar sobre Hiroxima e Nagazaque, cidades Japonesas repletas de crianças, duas bombas nucleares. Ora, muito maior motivação tem os povos árabes de nos levar a um conflito atômico a partir de Israel. Você pode se calar e vê acontecer. Ou, você pode nos ajudar a impedir tal fim. Para salvar sua humanidade, sua nação, sua comunidade, sua família, sua vida, simplesmente faça circular este aviso fundamental.
http://livrodoespiritosanto.webnode.com.br/
http://avisosdoceu.webnode.com.br/links-/
http://verdadedabiblia.webnode.com.br/

Antonio Lains Galamba disse...

boa foto

Pedro disse...

Pois é... Isto hoje em dia qualquer gato e sapato tem paramentos sagrado em casa...