1/18/2010

7 palavras mágicas

Uma história infantil para putos inteligentes e adultos pouco parvos.
Um dia gostava de contá-la aos nossos filhos,
linda Inês...


Há muito, muito tempo atrás num pequeno país cujo nome já foi esquecido na nossa era, numa terra no fim Ocidental do mundo, com o mar inteiro diante de si, vivia um povo feliz que se espreguiçava ao Sol. Eram gentis, sábios sonhadores cujas artes, ciência e obras eram inspiradas nas intuições que tinham durante as noites. Os sonhadores não acumulavam riquezas mas amigos, cantavam poemas e contavam histórias, dançando à volta de grandes fogueiras e adorando os bosques e as altas montanhas.


Não se sabia muito bem porquê… Porque sonhavam tanto e porque perseguiam os seus sonhos; também se desconhecia de todo o que estava por detrás das visões que os assaltavam ao luar; sabendo-se apenas que eram afáveis e que partilhavam, com os viajantes de outras raças, credos e línguas, que àquelas terras chegavam, os sonhos que tinham.

Este povo fraterno e bom, cantarolava ao vento que todos os homens e mulheres eram iguais e livres como os pássaros, não se devendo matar uns aos outros por um metal dourado, mas raro, que ainda hoje se chama ouro. E os viajantes que os visitavam voltando às suas terras de origem, levavam também os sonhos dos sonhadores com eles, germinando nos outros povos a vontade de também sonhar, sonhar muito e cumprir os sonhos.


Havia, porém, quem não gostasse nada dessa ideia, da ideia das pessoas terem sonhos. Tratava-se do Imperador, que era um homem gordo… Tão gordo tão gordo tão gordo, que em surdina - porque tinham medo dele – chamavam-no as pessoasde Bucha. Ora o Bucha achava os sonhos subversivos e perigosos...


O Imperador Busha era muito ambicioso e egoísta. Desejava tornar-se no homem mais poderoso do mundo, de todos os mundos e de todos os tempos, vivendo o delírio de ser recordado dali a 1000 anos. Queria entrar para os livros de História o Imperador Busha, queria que as gentes e as gerações vindouras o adorassem e lhe erguessem estátuas, mas como não sabia fazer nada de jeito, como não era um grande jogador de futebol, um músico virtuoso ou um cientista de génio, restava-lhe apenas ser recordado como aquilo que era: ser maus como as cobras. Pôs-se, portanto, a fazer a guerra, tornar-se num grande conquistador e, dessa forma, imortalizar-se.

Durante anos assim foi. Enquanto ele caçava, jogava às cartas e bebia vinho, os seus soldados foram guerrear os povos vizinhos. De início, o Imperador Busha não cobiçou o País dos Sonhos, porque ali não se acumulavam riquezas (apenas amigos) e não havendo ouro e tesouros afins, não havia como tornar a guerra lucrativa. Todavia, à medida que os sonhos dos sonhadores iam sendo sonhados por outras gentes, o Imperador Busha foi ganhando o temor que a sua grande obra, afinal, não fosse assim tão apreciada como julgara.

Se calhar, não apenas não iriam celebrar as suas conquistas dali a 1000 anos como - às tantas! - o seu próprio povo, que ele tirano oprimia com mão-de-ferro, ainda se punha a sonhar com a queda do seu Império. Então, receando muito uma epidemia de sonhos, o Imperador Busha lá chamou os seus generais. Estes escutaram-no mas não queriam ir guerrear para o País dos Sonhos, preferindo fazer a guerra com outros povos que tinham muitas riquezas e poucos amigos, mas o Busha era o Imperador e no Império, os homens eram apenas livres de obedecer...

Ora, perante as ordens e as ameaças do seu chefe, os generais trataram de arregimentar todos os jovens que encontraram como soldados. Durante meses treinaram os rapazes e raparigas nas artes da guerra e do ódio, sobretudo do medo. Disseram-lhes que os sonhadores possuíam sonhos secretos de destruição massiva. Falaram-lhes dos feitiços ferozes, dos hábitos diferentes e de serem os sonhadores azuis como os sonhos.

Quando tudo ficou pronto; quando os soldados estavam bem amestrados e obedientes; quando sabiam matar com eficácia; puseram-nos todos em fila, em linha e apertadinhos… e marchou para o País dos Sonhos o exército dos mata-sonhos: uma falange enorme, que se estendia por vales inteiros, pisando as flores e estremecendo o chão com o seu passo cadenciado. O Imperador, no seu palácio, esfregou as mãos de contente, antevendo o fim dos sonhos; e ficou esperando, quentinho à lareira, por notícias da guerra.


Todavia, as coisas não correram como o Busha planeara e pensou, pois há medida que os seus soldados se embrenhavam no País dos Sonhos… puseram-se também eles a sonhar! Começaram a sonhar com as suas casas e as suas terras, com os amigos, as famílias e aqueles que amavam. Sonhavam, sonhavam… sonhavam com as cearas por ceifar e as rodas de oleiro que tinham abandonado. Não era somente saudade, nos seus corações a semente dos sonhos realmente brotava. Quanto mais tempo estavam no País dos Sonhos, mais sonhavam com a paz e por não terem de andar à espadeirada com gente que nunca lhes fizera mal e que eles nem sequer conheciam.

Quando finalmente avistaram a primeira das cidades do País dos Sonhos, já tinham perdido toda a vontade de lutar, apenas sonhando em voltar sãos e salvos para as suas cidades e aldeias de origem. Os generais, de tão habituados às guerras e às matanças, de tão brutos que eram, ficaram imunes. Mas se não sonhavam, também não andavam a dormir. Ainda insistiram… mas não muito, receando que as suas tropas, recusando-se a combater as gentes da terra dos sonhos, virassem as espadas contra eles. Muito chateados, lá tiveram de dar guia de marcha-atrás aos soldados, antes que estes sonhassem em demasia.

Quando regressaram e o Imperador Busha foi informado do sucedido, teve um ataque de raiva, espumando da boca, partindo coisas e dando pontapés nas pessoas. Ficou furioso e voltou à carga: sete vezes tentou invadir o País dos Sonhos e por sete vezes os seus soldados puseram-se a sonhar. Por fim, os generais lá convenceram o Busha que o melhor era deixar os sonhadores em paz, pois de cada vez que os soldados volviam, traziam os sonhos com eles e contagiavam as outras gentes que vivam sob o Império do Busha, havendo cada vez mais sonhos sobre o fim do imperador e das suas guerras.

Vencido, mas não convencido, o Imperador Busha jurou vingança e ditou que nenhum contacto fosse doravante tido com o País dos Sonhos, ordenando que se construísse um muro que isolasse os sonhadores do resto do mundo. Depois, mandou os seus generais mata-sonhos perseguir quem sonhasse dentro de fronteiras. E assim foi.

Tinham passado 7 anos sobre a última das 7 tentativas do Imperador Busha para conquistar o País dos Sonhos, 7 anos em que outra coisa não fizera senão perseguir e prender os que sonhavam no seu Império. Para o distrair, os seus ministros inventaram-lhe um jogo com o mapa do mundo, uns bonecos e dados com os quais ele se entretinha, fingindo que mandava as suas tropas para uma batalha ali e que conquistava aquele terra acolá, e que um outro país se rendia e pagava tributo e etc., etc., etc...

Mas o Busha não tinha desistido de entrar para os livros de história e, por causa disso, quis arranjar uma noiva. Pensava ele que, para ser lembrado dali a 1000 anos, tinha que fundar uma dinastia: depois do Busha I, sucederia o Busha II e depois deste o neto Busha III e por aí fora: uns Bushas atrás dos outros...


Enviou o seu retrato para as cortes dos vários países e ficou aguardando resposta. Já estava a ganhar raízes de tanto esperar, pois as princesas sabiam que ele era bruto e dava pontapés, quando uma por fim apareceu. Viria ao engano? Era linda como a Primavera, tinha o perfume dos morangos e era a princesa da Sabedoria.

Uma princesa chegara, mas para grande desapontamento do Busha, não viera por ele. A princesa contou-lhe que aos 7 anos tivera um sonho, segundo o qual deveria partir em viagem dali a outros 7 anos e durante mais 7, cruzaria o mundo conhecido desde o País do Sol Nascente até ao Ocidente. Seria nessas terras, apenas com o mar sem fim para diante, atrás do qual se punha o Sol, que ela iria encontrar o cavaleiro com o coração puro, tão puro como as neves das serras do seu país natal.


Como sonhara tudo aquilo aos 7 anos, e tivera de esperar outros 7, pôs-se a ler livros, uns atrás dos outros, para se distrair e instruir o espírito enquanto o sonho não se cumpria. Devido a isso, por ler tanto e ser tão sábia, é que a chamavam de “Princesa da Sabedoria”. Estava ali apenas de passagem e diplomaticamente recusou as prendas e as promessas, negando-se a casar com o Imperador Busha.

Este ficou louco de raiva! “Malditos sonhadores” bradou furioso. “Os sonhos são a consolação dos tolos e dos fracos”. E continuou por aí fora, maldizendo tudo e todos, partindo coisas e dando os pontapés do costume. Por fim, vendo a consternação e choque da princesa, não havendo mais nada para partir e percebendo que ela se recusava a ser sua, berrou-lhe: “ Eu posso obrigar-te a casar comigo. Sou o Imperador, faço aquilo que quero e me dá na gana. Já vais ver o que faço aos teus sonhos.”

A princesa corou muito e respondeu-lhe: “Eu nunca sequer dei um estalo a alguém, mas se me obrigasses a casar contigo, juro-te que quando te apanhasse a dormir te enterrava uma agulha de crochet no coração” - Assim falou a princesa doce e delicada como uma boneca de porcelana, mas que não estava para ser abusada por ninguém, muito menos por um gordalhufo arrogante como o imperador Busha. Este ficou branco como a cal e à sua volta todos se emudeceram com aquela cena. Nem as moscas se atreveram a zumbir… Até que alguém exclamou: “Isto é o fim da picada! O fim da picada!”


Em redor da voz abriu-se logo uma clareia e todos se voltaram para ver quem tinha quebrado aquele silêncio de morte…

“ Permita-me que me apresente – disse um velhote -, sou o Mago Maia, faço parte da escolta da princesa e com ela tenho viajado todo este tempo, mas já estou cansado, não me apetece gastar mais as solas pelos sonhos duma jovem desmiolada que atravessa o mundo inteiro para descobrir um príncipe encantado. Sinceramente, estou farto! Assim queira vossa excelência o Imperador Busha e desde já ponho os meus serviços à sua disposição em troca duma bela vivenda, mais um bom salário que me permita comprar os ingredientes para as poções mágicas, os chocolates de que tanto gosto e manter uns trocos no bolso para cigarros e bilhar.”

A princesa não queria acreditar que o Mago Maia a traísse dessa maneira tão vil e o Imperador Busha tampouco cria que tudo aquilo fosse mesmo verdade… Mas teria toda aquela trupe saído de uma casa de loucos..?

Porém, o Mago Maia magicou umas manhas e tirou uns truques da manga para provar que era um feiticeiro. “Bravo, Bravo” – brindou o Busha, encantado com o número dos coelhos que saíam da cartola. E como o Maia era tão bom mago, pediu-lhe logo que fizesse um feitiço que hipnotizasse de amor por ele a bela princesa, fazendo-a esquecer-se dos seus sonhos. O Mago Maia disse-lhe que sim, "claro"… Mas... "bem... há um pequenino problema".

“Um problema?” – resmungou o Busha – “Mas eu estou farto disto, há sempre um problema, um contratempo qualquer a estragar-me os planos” – e como estava furioso saiu do salão e foi para o corredor partir mais uns móveis.

Quando o Busha regressou mais calmo, o Mago Maia lá se desculpou, explicando que isto das feitiçarias tinha sempre um reverso da medalha. Ele podia deixar a princesa louca de amores pelo Imperador, sim, mas seria um truque, não seria amor verdadeiro.

“E que me importa isso?” – Inquiriu o Imperador. "Uma vez que o amor da princesa pelo imperador seria uma ilusão, nunca a Princesa Sabedoria lhe daria filhos, pois a semente da vida é o amor, o amor verdadeiro” – insistiu respondendo o Mago Maia.

“Diabos!” - Berrou o Busha – mas qual por amor qual carapuça! Eu quero uma mulher que me dê filhos, quero sucessores para o meu reino… E de preferência quero uma princesa que me dê também estatuto, vinda dum reino poderoso como o meu, para assim juntarmos forças e conquistarmos o mundo. Que pouca a sorte a minha – continuou o Busha – vocês não servem para nada! Estou rodeado por uma cambada de inúteis sem serventia nenhuma!”

O imperador voltou a ficar vermelho de raiva. Daquela vez, nem teve de se deslocar, porque os seus criados depressa lhe trouxeram umas loiças e cristais para ele partir à vontade. No fim, quando estava tudo em cacos, gritou ao Mago Maia: “Estou em crer que tu és mais farsante do que feiticeiro e como fiquei farto de tantas esfarrapadas desculpas vou-te cortar a cabeça. Guardas! – grunhiu o Busha – Cortem-me a cabeça a este vigarista!”

O Mago Maia rogou misericórdia, prometeu tudo ao Imperador, desde uma infalível loção capilar à chave seguinte do totoloto. Chorava baba e ranho quando lhe disse: “Já sei, já sei, já sei como farei o Imperador feliz: enfeitiçarei os seus os seus piores inimigos. Diga-me Imperador, quem são os seus mais perigosos inimigos?”

O Busha não teve de pensar muito: logo respondeu que os mais perigosos de todos eram os malditos sonhadores do País dos Sonhos que teimavam em sonhar. Ao que o Mago replicou que sendo assim… “Sendo assim, tenho uma fórmula para que deixem de sonhar”

“Mas como é que tu podes enfeitiçar todo um povo oh Mago Maia?” - perguntou o Imperador.

“O feitiço opera através de uma poção – disse o Mago Maia – para a darmos a beber a todo um povo, basta envenenar os rios donde bebem a água com a mistela mágica...”

“Estou a ver – respondeu-lhe o Busha – mas qual é desta vez o reverso da medalha?”

“Este feitiço dos pesadelos – disse o Mago Maia – sendo bem forte, torna elevado o preço a pagar: o sacrifício humano, de alguém com sangue azul, da estirpe de antigos reis. De resto é tiro e queda e os sonhadores deixarão de sonhar.”

O Busha, com uma luz de malícia nos olhos, esfregou as mãos de contente. “É preciso sacrificar alguém? Sacrifique-se a princesa que assim sempre tem alguma serventia” – Ordenou o Imperador (rindo-se muito) para que assim se fizesse.


E assim se fez! Para o Rio Grande que, correndo para Ocidente, atravessava o País dos Sonhos, dirigiram-se o Busha, o Mago Maia e com eles a Princesa da Sabedoria arrastada e agrilhoada. A princesa bem esperneava, mas o que poderia fazer ela contra aqueles brutos?

Numa língua estranha e com uns gestos teatrais, o Mago Maia operou a feitiçaria e, duma pesada ânfora, despejou um líquido verde sobre as águas que corriam… que corriam para o País dos Sonhos. Ao mesmo tempo que a viscosa e verde poção mágica caía sobre o azul do Rio Grande, a princesa ia sendo sacudida por arrepios de frio, arrefecendo, tornando-se branca e lívida, até que em torno de si se foi formando uma camada de gelo, como se uma película de cristal a envolvesse. Quando a ânfora se esvaziou por completo, a princesa virara uma estátua, um bando de corvos sobrevoou em círculos a negra floresta onde tudo se desenrolava e o Busha riu-se com muita maldade. O feitiço dos pesadelos poluía já as águas que corriam para o País dos Sonhos…

7 anos passaram, sem sonhos e com grandes discórdias atravessando o coração das gentes do País dos Sonhos. O povo que era feliz espreguiçando-se ao Sol, deixara de sonhar e sem sonhos… Sem sonhos a vida deixara de ser vida. Os sonhadores já não se embalavam em sonhos, deixando de adorar os bosques e as altas montanhas, perdendo a fé nos poentes e mirrando em tristeza.

Já o Mago Maia, na sua vivenda, foi comendo chocolates… E o Imperador Busha (enquanto não arranjava noiva a condizer) sossegado por mais ninguém sonhar no País dos Sonhos, retomou os seus planos de grande conquistador, fazendo novamente a guerra àqueles povos com muito ouro e poucos amigos.

No País dos Sonhos que tinha sido uma terra de vinhas, mel e de boa aventurança, apenas um entre os sonhadores teimava em sonhar. Era o Cavaleiro Monge, o maior de todos os sonhadores. Ele sabia, ele sempre soube que o dia viria em que na terra dos sonhos deixar-se-ia de sonhar, o dia viria em que os irmãos, em vez de cantarem uns para os outros, andariam à pêra e ao pontapé… “O dia viria, o dia viria” – repetia ele lembrando-se das antigas profecias. E quando esse dia veio, o Cavaleiro Monge não vergou os ombros, cruzou os braços ou desistiu de sonhar… Não! Talvez por força do destino, decerto pela têmpera do seu carácter, o Cavaleiro Monge continuou a sonhar, teimou em sonhar sempre, sonhava e sonhava na forma de devolver os sonhos à sua terra e à sua gente.

Ao fim de 7 anos, 7 anos de pesquisas e de esforços, dirigiu-se à Capela Inacabada. Era lá que os seus sonhos o conduziam: à capela onde dormia sepultado um antigo rei, que trouxera as gentes dos sonhos para aquele pedaço de terra. Lá se encontraria a solução… Ele ainda não percebia como, mas a resposta lá estava e para ali foi.

Numa colina deserta, no meio de nada, com heras e outras ervas crescendo entre as antigas pedras, encontrava-se a Capela Inacabada. Estava a construção por concluir porque as gentes do País dos Sonhos não tinham fechado a abóbada, deixando a capela sem tecto, de modo que o antigo rei que ali dormia sepultado tivesse como telhas as estrelas, sonhando o céu infinito que o velava no sono eterno.

Cruzando os grandes portões há muito cerrados, o Cavaleiro Monge procurou, procurou por toda a parte, inspeccionou as antigas inscrições, as pequenas estátuas e as grandes colunas da Capela Inacabada. Passou nisto um dia inteiro e quando a noite veio, esticou a esteira e pôs-se a dormir, porque talvez dormindo o assaltasse a solução em sonhos…

E não é que foi mesmo! Decerto estaria sonhando quando 7 fadas lhe apareceram e segredaram que quando acordasse, olhasse os céus pois veria uma estrela cadente, uma única estrela cadente riscando o escuro. A direcção que a estrela apontasse na sua queda seria o caminho que deveria percorrer em 7 dias. No fim da viagem, marchando no sentido marcado pela estrela, encontraria algo tão extraordinário na sua rota que logo ali sentiria que não precisaria seguir mais adiante, porque teria chegado à solução do mistério. Seria então necessário dizer as 7 palavras mágicas, 7 palavras que ele em silêncio deveria escutar ao seu coração.

Talvez tivesse sido a mão duma das fadas que o despertou ou simples coelho passando por cima dele, mas em sobressalto se levantou na noite o Cavaleiro Monge para olhar os céus e contemplar encantado a queda duma estrela… na direcção do Oriente, na direcção do Império!

Não esperou mais, porque tudo podia ter sido um simples sonho… mas os sonhos faziam sentido e aquele então… “Pois claro” – pensou o Cavaleiro Monge –“ Se alguém está por detrás da nossa desgraça é o Imperador Busha!


E pôs-se a caminho! Durante 7 dias de abalada para Oriente, cruzou as planícies e os planaltos, acabando, através de passagens muito ignoradas, por desembocar na nasceste do Grande Rio. O Cavaleiro Monge não tinha contado os passos ou as horas, porque não precisava: no sonho que tivera, ficara claro, pelas fadas, que sentiria quando chegasse, o destino final da sua viagem.

E que outra coisa poderia ele encontrar senão a estátua de gelo que era a Princesa Sabedoria encantada e sacrificada no feitiço “fim dos sonhos”? O realismo da estátua, o fantástico facto de se conservar em gelo em pleno Verão, mas sobretudo a beleza serena da mulher esculpida, maravilharam o Cavaleiro Monge.

Mas como poderia aquela estátua encerrar a solução do fim dos pesadelos entre os sonhadores? Sentou-se diante dela, não apenas pelo cansaço, mas para meditar… que deveria fazer? Dizer 7 palavras mágicas? Mas quais palavras mágicas? Pôs-se a experimentar… Outra coisa não fez senão dizer palavras, umas atrás das outras, em sequências de 7, desde as coisas mais parvas até às fórmulas mais cabalísticas e potencialmente mágicas.

7 dias e 7 noites levou naquilo, até que já muito irritado por nada suceder, desesperado e sem imaginação para mais, tirou a espada da bainha e começou a golpear a estátua de gelo. Uma espadeirada atrás da outra, mas o gelo não quebrava e o Mago Maia lá muito ao longe sentiu as pontadas.

Ele estava na sua vivenda a comer chocolates. Todavia, cada uma das pancadas do Cavaleiro Monge sobre a estátua de gelo, era uma pontada que sentia o Mago Maia no joelho esquerdo. Alarmou-se o Maia, fez a poção do touro vermelho, ganhou asas e voou para lá, para onde o Cavaleiro Monge e a princesa se encontravam.

“Pára idiota!” – ordenou à sua chegada o Maia ao Cavaleiro Monge.

O Cavaleiro Monge parou e perguntou-lhe o que era aquela estátua e que relação tinha ele – o Mago Maia – com tudo aquilo.

“Tenho tudo a ver, mas não és tu quem faz aqui as perguntas” – replicou o Maia – “ Antes sou eu quem dá as ordens!” - E erguendo a mão direita, ao mesmo tempo que dizia uma ladainha, logo fez brotar da terra 7 monstros ciclópicos (com um único olho na testa) que se atiraram ao Cavaleiro Monge.

7 golpes desferiu o Cavaleiro Monge, 7 golpes apenas e trespassando com a sua espada cada um dos 7 monstros, avançou para o Mago Maia a quem apanhou pelos colarinhos antes deste conseguir trepar a uma árvore… É que o reverso da medalha do feitiço dos guarda-costas ciclópicos era senão a perda momentânea dos poderes mágicos e outras habilidade durante uma hora por cada monstro invocado.

Foi por isso que o Maia não pôde fugir ou tirar outro truque da manga e encontrando-se indefeso apenas lhe restou tentar aliciar o Cavaleiro Monge.

“Dou-te todo o ouro e chocolate que quiseres” – tentou-o, primeiro com riquezas, o Mago Maia.

“Não há maior tesouro que a amizade” – Respondeu o Cavaleiro Monge, recordando todos os amigos do País dos Sonhos que decidira salvar.


“Farei tua a mulher mais linda deste mundo pois eu, o Mago Maia poderoso feiticeiro, sou capaz de tudo.”


“O amor duma mulher conquista-se pela verdade” – E tampouco a tentação da carne desviou o Cavaleiro Monge da sua missão. Este talvez nem se apercebesse, porque ao fim de 7 dias e 7 noites, falando em sequências de 7 palavras em busca da fórmula mágica, já só sabia responder de 7 em 7 palavras, como se fosse a coisa mais natural deste mundo.

Realmente assustado e temendo pela sua vida, o Mago Maia tentou o tudo por tudo e disse-lhe: “a ti cavaleiro que vens do País dos Sonhos na demanda de um, te ofereço todo o Império se vieres comigo. Que tens agora senão um ou dois sonhos e uma mão cheia de nada? Vem comigo, eu ofereço-te o Império numa bandeja. O Busha está gordo, velho e acabado. É chegada a altura de um jovem cavaleiro tomar o seu lugar. Vem! Vem comigo!”

“O poder a mim não me seduz” – argumentou o Cavaleiro Monge, recusando as glórias.

“Mas então és louco, és um louco sonhando quimeras?” – Perguntou-lhe o Mago Maia.

“Seja! Seja portanto um louco! Vim aqui em busca de um sonho e não para me corromper.”

O Mago Maia ficou verde com a resposta. Verde como a poção do feitiço do pesadelo, verde como a inveja, verde como as canas que ao vento bailando, tremiam menos do que as suas pernas e palavras rogando clemência ao Cavaleiro Monge.

“Mas não há nada a fazer, cavaleiro – disse-lhe o Maia – pudera eu fazer algo, mas não! Tu, o último dos sonhadores, vens atrás de um sonho que não se realizará nunca, jamais. É verdade que sou o culpado, que fui eu quem lançou um feitiço sobre o País dos Sonhos a mando do Imperador, mas não me mates que assim também não ganhas nada e eu não te posso valer, porque o feitiço uma vez lançado não tem mais fim.”

O Cavaleiro Monge não acreditava nas palavras traiçoeiras do Mago Maia. Este não podia estar a falar a verdade, mas ele ia arrancá-la nem que fosse a ferros. Não fazia contudo tenção de matar o Maia, pois se alguém tinha a resposta para o enigma… era ele! Queria apenas assustá-lo, porém o Mago morria de medo – literalmente de medo – chorando baba e ranho às mãos do Cavaleiro Monge.

Coisa curiosa… Na única vez em que o coração do Mago Maia deu sinal de vida, foi no momento exacto da sua morte quando o teve um ataque cardíaco do susto que apanhara…

Com uma estátua de gelo ao lado, 7 monstros por terra e um feiticeiro que tinha ido desta para melhor, levando para o túmulo a resolução do enigma, jurou o Cavaleiro Monge não desistir nunca dos seus sonhos e olhando os céus que até ali o conduziram clamou:

“Os sonhos alimentam a alma da gente!”

Foram essas as palavras que, expressando a fé do Cavaleiro Monge nos sonhos, se revelaram mágicas. O milagre deu-se e o gelo quebrou. O gelo da princesa desfez-se no momento exacto em que o Cavaleiro Monge disse “os sonhos alimentam a alma da gente!”

Ao longo de 7 dias e 7 noites dissera muitas frases de 7 palavras quase ficando rouco, roxo e louco de tanto palrar e puxar pela cabeça. Dissera já tanta coisa… Teriam sido mesmo e exactamente aquelas 7 palavras a quebrar o gelo ou fora o calor da sua fé inabalável? Nunca se chegará verdadeiramente a saber… E Também isso pouco importa porque é bonito deixar espaço para o sonho.

Um enorme arco-íris rasgou os céus. Fazia Sol e não chovia… A não ser que chovessem sonhos coloridos no país deles… Era fácil de imaginar, não era..? O Imperador Busha que se acautelasse: os sonhos iam voltar em força.

Despertada do seu longo sono, como que parecendo ela também vinda de um sonho, a Princesa Sabedoria olhou para o Cavaleiro Monge que a adorava, joelhos no chão e como este mais nada fizesse, disse-lhe: “Mas de que estás tu à espera? Beija-me tonto!” E o cavaleiro beijou-a, partindo depois os dois muito abraçados para o País dos Sonhos onde os pesadelos tinham terminado por fim.

4 comentários:

obramovic disse...

Não tens histórias para adultos que não sejam parvos? (Busha-pai ou W. Busha?...)

Pedro disse...

Tenho as histórias possíveis...

patrícia Oliveira subturma 9 disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
patrícia Oliveira subturma 9 disse...
Este comentário foi removido pelo autor.