3/20/2010

Quadras soltas

I
A Lua é crescente,
há estrelas d' embalar,
Sonhos do Oriente...
Amor hás-de voltar.

II
Quadras de Jasmim
São pétalas floridas,
Desbotados versos em mim
Pelo amor de duas vidas.

III
Viajo em torno do meu quarto,
Passeio dentro de mim:
Se há Destino que não farto,
É procurar-te amor sem fim.

IV
Tuas madeixas castanhas,
Anéis caindo como cadeias...
Como são elas felpudas,
Enredando como aranhas
Tricotando as suas teias...
Mesmo curtas e miúdas!

V
Se as paredes falassem,
Se biombos indiscretos
Nada de mim te ocultassem...
Saberias dos afectos
Pungentes, sem outros freios,
Senão de lamentos cheios.

VI
Tua face esculpida
Pelo vento que arriba,
É a esfíngica escriba
Das linhas da minha vida

VII
Tenho um arco-íris na alma
E rios choram cantando,
Tempestade que acalma
A saudade desaguando.

VIII
Eu contigo não sonho
Quando estou a dormir.
É um sono bisonho:
Não te vislumbro sorrir.

Quando acordo porém,
Tudo se transfigura:
Vivo o dia refém
Da tua tenra ternura.

De sonho em suspiro,
De quimera em ilusão,
Como Quixote aspiro
Conquistar teu coração.

IX
Viajando pelas Espanhas,
Atravessando o Marão,
Minha Fé move montanhas
Para atingir teu coração.

Por moinhos de Quixote,
Caminhos de Compostela,
Febril como um archote,
Procuro eu a donzela.

X
Deito e amanheço
Sempre a sonhar.
Sem fim nem começo:
É eterno o deambular.

XI
A noite está doce e serena
mas a saudade fustiga ruim:
embora longe meiga morena,
forras-me os sonhos de cetim.

E de verso em verso coso
As linhas desta paixão
E em cada palavra ouso
Remendar a solidão.

XII
Brilhas tu mais pela Terra
que as suspensas luzinhas nos Céus,
mas o Mistério que em ti se encerra...
de trevas turvou os desígnios de Deus!


Mas se refulge tua Esfíngica face
Riscando meu Horizonte vasto...
Importa incerto o Desenlace,
Na Demanda em que me gasto?

Seja então ao Destino dado,
destino que Decidi eu,
vivo por ti Encadeado,
pela Luz do olhar teu…

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