Para aliviar as dores de corno, segui lendo. Ou pensando que lia. Que desconcertante, que patética a minha situação: não apenas traído, mas buscando também uma explicação astrológica para o sucedido. A que ponto podia cair um homem!
Todavia, dúvidas não me podiam sobrar: Como, se estava toda a verdade escarrapachada diante dos meus olhos? Talvez estivesse sendo um pouco impressionável pela literatura astrológica, mas o sentido que dava à sucessão desconcertante de acontecimentos... Nã! Se até os astros me revelavam o que um Ego ferido teimava em recusar ver: senão em actos, pelo menos em pensamento, fui desde o princípio traído. Mesmo sem outras provas palpáveis, o que lia corroborava o que sentia. E isso não era de todo despiciendo! Mas quem fora? Em que circunstâncias? Com o conhecimento de quem? Tratei de elaborar uma sistemática lista de suspeitos. Começando pelo fim, terminei no David. Que grande Golias!
Conheci–o no dia do nosso casamento, apresentados por Andreia com um profético: “este foi o meu primeiro namorado e ele não será o último dos maridos”. Rimo-nos muito, éramos três e os Gémeos falam de boca cheia. Como foi exactamente aquela expressão servida pela Inês num par de vezes..? Ah sim! “Ele tocou profundamente em mim.”
Seria? Ruminei outras hipóteses, mas nenhuma me parecia tão mordaz – para não dizer elegante – como “David”. E com a bobine numa mão e a câmara de projecção noutra, rodei o filme: Ela entregava-me o corpo, gemia o meu nome, mas foi o dele que sempre lhe abrasou a alma. Uma longa-metragem projectada em dois anos enquadrados por caprichos, birras e fitas…fitas em sessões contínuas, intermináveis, imprevisíveis e histéricas por não ser - “elementar, meu caro Watson” – o destemido “David”. Que grande vileza!
1 comentário:
http://oladodoshomens.blogspot.com/
passem por la. Tu também RUI!!!
abraço
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