3/14/2010

Marionetas do Horóscopo 11


Fazia-se tarde e não me pagavam horas extraordinárias. Terminava outro extenuante dia de trabalho quando me lembrei de quando tentara satisfizer determinada fantasia sexual da Inês no depósito de livros. A vida era simples, mas eu compliquei tudo: acagei-me com a ideia de ser apanhado de calças na mão… Era um atadinho como qualquer Virgem, preso à auto-vitimização, ao criticismo, ao pessimismo… que depressão! Não haveria nada de simpático no meu Signo? Manifestamente, a Virgem era o patinho feio do Zodíaco.

Grasnava de raiva e lambia-me na frustração, às voltas com a Inês e a Astrologia. Havia semelhanças - “não posso negar”. Em vinte características elementares sugeridas ao meu Signo, conseguia eu contabilizar umas oito ou nove que batiam certo. Todavia, nenhuma garantia me era dada, de ciência certa e segura, serem consequência dos posicionamentos planetários. Podia tratar-se apenas de uma grande coincidência, pois mesmo um relógio sem corda acerta duas vezes por dia.


A falta de auto-confiança ou a timidez clássicas nas Virgens, eram em mim factualmente verdadeiras, mas às tantas… às tantas, qualquer psicólogo de pacotilha poderia apontar um excesso de protecção materna na alta infância como raiz de tal diagnóstico. E já quanto à clássica organização virginiana… Aquilo não encaixava de todo! Estávamos, mesmo, definitivamente conversados. Era certo ser um Guarda-livros, sendo que lera algures que isto de o ser era daquelas vocações profissionais tipicamente Virginianas; era certo que a colecção de CDs se encontrava meticulosamente organizada por género musical, havendo dentro de cada campo, uma ordenação onomástica; era certo, sem dúvida, mas tinha dias e eu não sabia da chave do carro para me poder ir embora.

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