4/07/2010

Marionetas do Horóscopo 21


A “dominante” do meu mapa era o binómio Virgem – Peixe. Em Virgem tinha os planetas Sol, Mercúrio e Marte; em Peixes estavam lá o Ascendente, a Lua e Júpiter. Para mais, Neptuno, Regente[1] do signo de Peixes, fazia alinhamentos com o Sol e com o próprio Ascendente. Tudo somado e metade de mim era uma barbatana. Daí uma certa tendência para a desarrumação organizada, a controlada alienação pelo álcool ou o estudo sistemático do esoterismo.

Para minha cruz, a maior parte dos planetas tinha alinhamentos tensos – e eu era, de facto, tudo menos uma pessoa calma. A teoria dos alinhamentos colocava em primeiro plano a combinação de energias através das funções representadas pelos planetas, sendo que - no meu caso - as várias dimensões da minha personalidade não jogavam propriamente em equipa.

Os 360 graus do círculo zodiacal podiam ser divididos em partes iguais de 1 a 12. Segundo as antigas teorias matemáticas e cosmogónicas de Pitágoras, primeiro, e Ptolomeu, depois, da divisão do círculo por 1 (dois planetas no mesmo grau[2]) resultava a “conjunção”, por 2 (num frente a frente planetário separados por 180º) a “oposição”, por 3 o “trígono”, por 4 a “quadratura” e por aí fora. A tradição astrológica destacaria, ao longo do tempo, alguns aspectos considerados como os mais potentes, com maior destaque na manifestação do indivíduo pela vida: conjunção, sextil, trígono, oposição e quadratura. As últimas duas combinações planetárias (oposição e quadratura) são particularmente negativas, representando confrontação e crise - e estes aspectos dominavam amplamente o meu Mapa Astral.


O meu Sol opunha-se a Júpiter, no que resultava um traço de megalomania não desprezável. Seria possível? Mas então não era uma modesta Virgem com problemas de auto-confiança? Analisando o alinhamento em causa, reconheci sofrer – consoante os dias -de alterações extremas de humor e de auto-avaliação. Tanto caracterizava a minha vida de miserável, como, logo depois, a considerava suficientemente válida para inspirar umas “memórias astrológicas”. E se isso de escrever “memórias não era um traço de megalomania, o que mais poderia ser? Talvez a doença bipolar…

Variações do meu estado de alma eram, de resto, muito frequentes pela Lua na 1ª Casa absorvendo as vibrações emocionais em meu redor como uma esponja. Por falar em álcool… Onde teria guardado aquela velha garrafa de Porto..? Não dei com a garrafa e para toldar o meu estado de ansiedade, a minha Lua igualmente se opunha a Mercúrio e Marte no momento do meu nascimento, o que abria um abismo entre a esfera da razão e a metade emotiva, acentuando, pois, uma permanente instabilidade nervosa como resultado de precoces e intermitentes conflitos com uma mãe possessiva e castradora…

Obrigado mamã! Terminando em beleza, as quadraturas de Neptuno, tornavam-me num idealista com propensão a ver a vida por “óculos cor-de-rosa”, cego pelos sonhos da Casa 9 (as crenças) onde este se encontrava e pelo qual me dissolvia, para não enfrentar a dolorosa verdade de frente, sem falsas desculpas ou fugas tacanhas: metia dó como projecto de ser humano.

Talvez o espírito crítico da Virgem estivesse a ser demasiado exigente… Mas não! Era mesmo difícil encontrar algo benigno, com serventia e bem disposto no meu Mapa Astral… Tendo o Sol na Casa 7 (o domínio do casamento), descobrir a cara-metade, tornava-se na condição sine qua none para a minha realização… Pois por azar, porém, Saturno - representando as dificuldades e provações - estava num particularmente mau estado celeste às 20 horas do dia 2 de Setembro de 1974, o que iria restringir-me seriamente o sucesso no amor e no jogo por toda a minha vida. Que pouca sorte, não era?

Por algum motivo, já a Lua em Quadratura com o Meio-do-Céu pressagiava “uma carência e uma insatisfação para a qual não houve resposta no seu seio familiar”[3]. Outros dados acentuavam uma personalidade imatura e infantil, emocionalmente dependente e melindrosa… Mas que grande estucha que era! A leitura do horóscopo assemelhava-se aos sermões duma certa ex-namorada…


[1] Todos os Signos têm como “regente” determinado Planeta – são governados por eles, isto é, pelos planetas que melhor canalizam as energias em questão.

[2] A tradição astrológica confere uma certa margem de erro – chamada de orbe – aos aspectos, uma vez que é bastante raro dois planetas encontrarem-se exactamente no mesmo grau ou separados, por exemplo, por precisos 180º. A “orbe” não deve ultrapassar uma distância de 5º. Exemplo: Marte oposto ao Sol por 188º. Aspectos envolvendo Sol e Lua e destes com os restantes planetas podem ir até 10º. Quanto mais preciso for o aspecto, mais potente se torna a combinação de energias.

[3] Resina, Luís, Guia de Interpretação Astrológica, Lisboa: Editora Pergaminho, 2000, pág. 116

1 comentário:

kanina disse...

loooooooooooooooooooooooooool Aí Pedro Pedro se fossemos todos desgraçados por causa do destino era uma festa, já tou a ver os advogados no tribunal a defenderem o criminoso por pobre ter um mau signo... Mas o Sócrates que também é Virgem tá bem, mas o homem tem o Ascendente em Touro xD