Astrologia? Passara invariavelmente ao lado do assunto e até perorara alavardidades jocosas e poderia ser de outra forma? Tinha ainda dois dedos de testa, já suspeitando que até pudesse lá ter mais qualquer coisa. Quantas vezes, ao entrar no metro, não apanhara aqueles papelinhos em que o Prof. Mamado e outros vígaros prometiam salvar-me de todas as maleitas, vícios e maus-olhados, sobretudo de mim próprio, num espaço de sete dias contra reembolso em caso de não satisfação? Quantas? 7 x 70? As promessas eram estupendas e quais políticos, qual carapuça! Nem mesmo Jesus Cristo seria capaz de tantos milagres em tão pouco tempo! Os astrólogos videntes eram simplesmente fantásticos.
Uma vez, inclusive, cheguei ao cúmulo de ler na secção de horóscopos dum jornal diário que “hoje você será pedido em casamento”. E ao menos aí, na suprema evidência do fatal fiasco da astrologia - “hoje você será pedido em casamento” - acertaram em cheio! Senão, façam-se contas: dividindo 10 milhões de portugueses por 12 signos, resultavam aproximadamente 800.000 Virgens, do que se induzia a altíssima probabilidade estatística de que alguma – por mais Virgem que fosse – desencalhasse naquele dia.
Era essa a minha experiência: não muito boa, por sinal. E era também escassa: até então, os meus conhecimentos astrológicos resumiam-se a um “nasci em Setembro, logo sou Virgem” a “Maya lança cartas” e descobrira, entretanto, que a Inês tinha a “Vénus em Gémeos”.
Ao folhear o primeiro dos livros, espantei-me. Estava, obviamente, familiarizado com textos de teor profético, ou não lesse compulsivamente às páginas dos diários desportivos! Mas aquela literatura… Pela madrugada! Era mais suculenta do que uma boa antevisão dum derby.
Diziam-me no livrinho que o signo Virgem, como São Tomé, vê para crer… e o que vi, pois então… Fiquei encandeado, ceguei até de tanta luz! Limpava os olhos, esfregava as lentes dos óculos – salpiquei a cara! - mas ainda lá se encontrava com um inegável grau de afinação, a descrição perfeita da minha relação com a Inês!
2 comentários:
Filipe procura Pedro...(um outro)...abc de solidariedade!!
Todos diferentes, todos iguais! Boa sorte.
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