6/07/2010

História da Astrologia 3


Este reinado absoluto terminou – como referido – com o triunfo do cristianismo. Duas causas tornavam a astrologia e o cristianismo irreconciliáveis. Uma era a herança pagã da astrologia, perceptível no léxico desta arte: quando se pretendia converter os homens à crença no Pai, Filho e Espírito Santo, era difícil tolerar uma arte que se exprimia através de Júpiter, Marte, Vénus, etc. Por outro lado, o determinismo astrológico entrava em rota de colisão frontal com o princípio do livre–arbítrio cristão.

É certo que – se pensarmos bem – a igreja durante muito tempo apenas concedeu a fiéis e não fiéis a liberdade de acreditarem na sua doutrina, condenando tanta e tanta gente à fogueira. Porém, elemento fundamental e fundador – mesmo – do cristianismo é o conceito de escolha que reside no homem, pois em função das escolhas morais que fizer, o homem será castigado ou recompensado por Deus. Ora se o temperamento, as acções e o destino do homem fossem determinados pelo posicionamento dos astros como propunha a astrologia, a responsabilidade do Homem pelas suas escolhas e pelos seus actos tornava-se nula.

Não é, pois, de estranhar que as condenações se tenham sucedido: O Concílio de Laodiceia em 365 proibiu o clero cristão de praticar a astrologia. Em 425, diversos decretos religiosos comparam os astrólogos aos heréticos. Em 572, no Concílio de Braga, pronuncia-se o anátema contra os que utilizam a astrologia, decretando “se alguém crê dever fazer fé na astrologia ou na adivinhação, seja excomungado”.

Todavia, apesar das condenações, na prática, a astrologia não deixou de ser exercida na Europa cristã. Até porque vários homens da igreja (bispos e até um ou outro Papa…) a praticavam, decorrendo daí que os astrólogos medievais raramente foram inquietados, salvo quando entraram abertamente nas práticas mágicas e hereges.


São Tomás de Aquino escreveu, a propósito da astrologia o seguinte: “os corpos celestes exercem sobre os corpos humanos uma acção directamente e por si próprios (…) mas só agem indirectamente e por acidente sobre as forças da alma que os órgãos corporais animam”.

Através desta passagem, podemos ler como os homens da Igreja acabaram por aceitar a influência dos astros sobre os destinos do homem, desde que, apesar de tudo, estes conservassem a essência do seu livre arbítrio.

Resgatando a cultura da antiguidade clássica, o Renascimento trouxe um novo impulso à arte astrológica. Nem mesmo a revolução de Coperniquiana que destruiu a concepção geocêntrica segundo a qual, a Terra era o centro do Universo, abalou os alicerces ou prestígio da astrologia. De resto, Copérnico, tal como Giordano Bruno, Tycho-Brahé ou Kepler foram simultaneamente grandes astrónomos e… astrólogos. A excepção foi, sem dúvida, Galileu. Não porque este não acreditasse na adivinhação astral, pois chegou a levantar inúmeros temas, Mas este grande astrónomo, foi um fraquíssimo astrólogo, pois sabe-se que, tendo elaborado o horóscopo do seu protector e mecenas – O grão-duque da Toscânia –, pressagiou-lhe uma vida longa, vindo, porém, a alta personagem a morrer passadas umas semanas…

Ao contrário do que se poderia supor, a grande maioria dos intelectuais renascentistas que seriam os percursores do livre-pensamento não se opunham, antes pelo contrário, à astrologia. A esmagadora maioria das críticas que se levantava, tinha subjacente preconceitos religiosos e não tanto uma raiz científica. A ideia de que os homens estariam ligados ao todo universal não poderia deixar de apelar e seduzir os espíritos renascentistas que punham, precisamente, o homem no centro das coisas, do mundo e da vida.

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