Fiquei arrasado – como calculam! Ainda se me tivesse cuspido na cara que era um fraco, sem valor na cama, incapaz de lhe assegurar os luxos e o bem-estar, não lhe injectando a necessária adrenalina à sua vida social, teria até aceite muito melhor toda a situação, porque essas, no fim de contas, são as razões corriqueiras para os divórcios do dia-a-dia… Mas assim..? Com “Vénus em Gémeos”? Que diabo quereria ela dizer com aquilo?
Desabei para o sofá com a cabeça à roda, querendo convencer-me de que era a vítima duma partida. Quiçá dum arrufo: ela refugiava-se em casa da mamã durante um par de dias e nós, logo depois, em terreno neutro, mediaríamos o armistício e a reunificação desejada. Lembrei-me, porém, que a mãe dela morrera e já isso não podia ser. Oh, tantas teorias criei para compreender o inexplicável! Todo um rol de hipóteses à procura dum antecedente, duma justificação racional qualquer… E por isso mesmo, por não entender coisa nenhuma e salivar teorizações bastante machistas, porque estava emocionalmente de rastos e me encontrava seco, decidi apanhar um pifo! O que já era o princípio de qualquer coisa.
Com a ressaca, no dia seguinte, nem fui trabalhar – eles que me descontassem no salário, a ver se me ralava! Perdida a mulher, sempre poupava nas despesas, porque assim como assim, no balanço do meu saldo bancário, a Andreia pesava mais do que um dia de gazeta - que aliás jamais gozara por serem o trabalho sagrado, as prestações um inferno e as férias, num destino necessariamente exótico, uma obrigação anual.
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